Inteligência artificial,me ajude a te ajudar
A inteligência artificial alcançou patamares inegáveis. Já ganhou do melhor jogador de xadrez do mundo, venceu o Jeopardy – um programa de televisão de perguntas e respostas exibido nos EUA – e, hoje, é capaz de ser aprovada no “The Bar”, exame dos Estados Unidos equivalente à prova da OAB, além de criar artes e textos que facilmente seriam confundidos com conteúdos feitos por profissionais, como a imagem do Papa Francisco usando um casaco estilo “puffer”, que circulou pela internet recentemente.
Para profissionais de áreas criativas, como designers, jornalistas e engenheiros de computação, aplicativos como ChatGPT e Midjourney – programa de inteligência artificial que cria imagens a partir de descrições textuais – podem ser realmente assustadores. Embora existam muitas discussões sobre a melhor forma de inserir informações e combiná-las nessas plataformas, a velocidade e a qualidade do trabalho delas são inegáveis. Diante disso, a pergunta óbvia (e atemorizante) que surge é: “A IA eliminará meu trabalho?”
Certamente, a IA eliminará alguns empregos, mas não pelos motivos que você imagina. Os melhores profissionais vão interagir com a inteligência artificial, treinando e moldando os insights fornecidos por ela para impulsionar suas ideias e reduzir o trabalho manual. Quaisquer resultados que a IA possa oferecer podem ser aperfeiçoados e ajustados por um profissional, tornando tudo mais rápido, escalável, exclusivo e eficaz. Quanto mais as pessoas interagem com essas ferramentas, melhores e mais úteis elas se tornam.
Na economia criativa, a IA provavelmente não vai tirar seu emprego, mas aqueles que a usarem melhor, com certeza, vão. Recentemente, um companheiro de trabalho me perguntou se eu poderia ajudar com uma consulta particularmente complicada de nossos dados. Era preciso unir várias tabelas de forma complexa, o que facilmente poderia trazer resultados equivocados, se não fosse estruturada corretamente. Decidi alimentar os parâmetros da consulta no ChatGPT para acelerar o processo. Na primeira tentativa, tive resultados incorretos. Na segunda, não foi muito melhor.
Existem muitas dessas ferramentas por aí. Várias empresas, inclusive, grandes como AWS e GitHub, desenvolveram suas versões e a lista está crescendo a cada dia. O fato é que cada uma dessas plataformas parecem tão confiáveis, mesmo dando respostas incorretas, que apenas um profissional com um nível mais avançado de conhecimento sobre o assunto poderia identificar os erros.
Conversei com vários engenheiros que encontraram o mesmo problema. Esses profissionais superinteligentes, geralmente, têm uma reação instintiva de revirar os olhos e dar um ou dois exemplos de como essas ferramentas não funcionam bem para “problemas reais de engenharia” ou, ainda, não conseguem ver como isso pode funcionar dentro do seu dia a dia de trabalho. Para isso, respondo que precisamos dedicar tempo para aprender a dar comandos melhores, que ajudem a aperfeiçoar as ferramentas.
No momento, as soluções de IA são ótimas para criar um código básico, o que pode parecer uma perda de tempo para os engenheiros. No entanto, para aqueles profissionais ambiciosos, a inteligência artificial será capaz de dar mais eficiência ao trabalho. Este é apenas o primeiro passo. Quanto mais impulsionarmos a IA, mais ela poderá fazer por nós no futuro e mais tempo poderemos investir em problemas realmente complexos.
A IA ficará cada vez melhor. Você consegue alcançá-la?
Não devemos menosprezar o futuro da Inteligência Artificial. É ótimo que ela nos ajude com economia de tempo e redução do trabalho manual. Mas, isso não é suficiente. Devemos nos esforçar mais e ser ainda mais colaborativos para levar a IA mais longe.
Foi com esse espírito que não parei após as duas primeiras tentativas de ter um bom resultado no ChatGPT. Refinei minhas instruções mais algumas vezes e recebi algo que, novamente, não funcionou. Porém, enxerguei isso como uma sessão de programação em pares – método no qual duas pessoas trabalham juntas para construir um único programa —. Dei um feedback para a ferramenta e ela fez uma sugestão que transformou meu pensamento e me permitiu fazer uma consulta que, finalmente, funcionou e teve resultado satisfatório.
A IA é como um aprendiz sentado ao meu lado, enquanto trabalho. Hoje, ele é jovem e um pouco ingênuo, mas tem potencial. Amanhã, esse aprendiz ganha conhecimento e se torna um colaborador. Apesar de muitos profissionais ainda não enxergarem o real valor dessa tecnologia, os designers, por exemplo, já estão utilizando IA para criar mood boards – murais de inspiração, que podem conter vídeos, fotos e outros elementos visuais para guiar e facilitar a criação de anúncios e ações. Não estão apenas economizando tempo, mas também tendo novas ideias que eles próprios poderiam não ter.
Esse tipo de colaboração humano-computador está chegando a muitas outras disciplinas. Quando a IA oferece a possibilidade de sugerir abordagens realmente inteligentes, não devemos ter medo, devemos nos inspirar. Podemos pegar essas informações e trabalhar junto com elas ou lapidá-las.
Quando o aluno se torna o professor
Ben Thompson, um analista americano de negócios, tecnologia e mídia, disse recentemente em seu podcast que as pessoas tendem a aceitar uma nova tecnologia com base em como ela funciona hoje, com pouca previsão de como pode funcionar no futuro. Se olharmos para um ou três anos à frente, a IA se tornará significativamente mais poderosa.
Um dia, nosso aprendiz se tornará professor. Isso ainda não significa que não somos mais valiosos para o processo. Principalmente, se estivermos à altura da situação, analisando o que ela pode fazer por nós hoje e nos prepararmos para o futuro, evoluindo a maneira como trabalhamos.
*James Kupernik é CTO da VidMob